Miriam Mattova, modelo eslovaco-canadense e ex-Miss Eslováquia, relatou um incidente perturbador ocorrido em Toronto, no Canadá, onde um motorista de Uber a expulsou do veículo por ela mencionar sua recente visita a Israel. O episódio aconteceu em 30 de novembro, quando o motorista ouviu sua conversa via FaceTime sobre a viagem e se recusou a prosseguir, alegando sua identidade judaica. Mattova contou ao site Ynet que agora considera se mudar para Israel devido a essa experiência e está alertando sobre o aumento do antissemitismo.
Durante a corrida, Mattova conversava com uma amiga pelo FaceTime no banco de trás do Uber quando o motorista parou abruptamente em um cruzamento movimentado e ordenou que ela saísse. Inicialmente confusa, Mattova ouviu da motorista que ela se sentia desconfortável em continuar. Ao questionar, a motorista foi direta: “Eu não dirijo judeus”.
Mattova chamou imediatamente outro Uber e registrou uma reclamação na empresa junto com sua amiga. No entanto, a resposta da Uber demorou vários dias, e a companhia só agiu após a atenção da mídia. Quatro dias depois, a Uber a contatou, pediu desculpas e afirmou que falaria com a motorista para evitar repetições, além de reembolsar a corrida.
“Eu acho que, ao lidar com um incidente grave envolvendo ódio, é preciso ação em até 24 horas”, disse Mattova ao jornal The National Post. “Qualquer coisa além disso permite que o preconceito se expresse livremente. O que aconteceu comigo foi um ato direto de antissemitismo, e é importante falar sobre isso abertamente”.
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De acordo com o Israel National News, a Uber declarou que não tolera discriminação e tomou “medidas apropriadas” contra a motorista, embora tenha se recusado a detalhar quais foram essas ações. Mattova expressou preocupação com o fato de a empresa não esclarecer se a motorista ainda estava ativa, citando a ênfase da companhia nos direitos de privacidade da motorista.
Durante a entrevista, Mattova exibiu fotos de sua recente viagem a Israel, onde visitou o Muro das Lamentações e comunidades na fronteira com Gaza. Ela atua na organização “Friends of Israel”, que apoia sobreviventes dos ataques de 7 de outubro e soldados com transtorno de estresse pós-traumático. Mattova compartilhou que a organização arrecadou 55 milhões de dólares em dois anos para garantir ajuda em até três dias, em vez de meses de espera. “Esse trabalho me conectou a famílias e sobreviventes de uma forma que eu não esperava”, afirmou ela. “Ajudar israelenses é minha missão”.
Seu envolvimento com a organização intensificou o choque com o incidente no Canadá. “Eu pensava que o Canadá era seguro”, disse ela. “Agora, sou cuidadosa com o que falo em público, até em um táxi. Isso parte meu coração e me lembra da Alemanha em 1938”.
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A avó de Mattova a alertou sobre os sinais iniciais de ódio muito antes da guerra eclodir. “Ela me contava histórias assustadoras sobre o que aconteceu, até um ou dois anos antes do início da guerra”, recordou Mattova. “Momentos como esses me levam de volta ao que ela me avisou. Se permitirmos que essas coisas passem sem contestação, elas voltarão? Essa é a pergunta que me mantém alerta. Para onde estamos indo?”.
Seu advogado, Howard Levit, criticou a resposta lenta e opaca da Uber. “A Uber nunca confirmou se a motorista foi demitida”, disse Levit. “Se não houver consequências, isso vai acontecer de novo”. Ele defendeu a demissão imediata da motorista, um compromisso de todos os motoristas com uma política rigorosa de não discriminação e uma doação da Uber a uma organização que ajuda vítimas de trauma em Israel. “Uma doação da Uber mostraria que eles não são indiferentes à situação”, afirmou Mattova. Levit também destacou que a atenção da mídia foi o motivo da resposta da empresa. “Sem o National Post publicar a história, não haveria reação”, disse ele.
Mattova manifestou receio em usar o aplicativo da Uber no futuro. “Por enquanto, vou pedir ajuda a amigos ou usar outros aplicativos”, declarou ela. “Também estou considerando me mudar, talvez para Israel”.
Levit vê o incidente como parte de uma mudança mais ampla no Canadá. Ele acredita que o antissemitismo se tornou mais aberto e até normalizado, com respostas inconsistentes das forças de segurança. Questionado se consideraria deixar o país, Levit respondeu que não, mas observou que muitas pessoas que ele conhece estão pensando nisso.
Mattova descreveu o episódio como um sinal de alerta sobre o que ocorre quando preconceitos não são confrontados. “A história mostra aonde o silêncio leva”, concluiu ela. “É por isso que não podemos ignorar isso”.









