O documentário “Não Vivas pela Mentira”, produzido pela Angel Studios, é uma experiência perturbadora. Não se trata apenas de uma revisão histórica, embora faça isso com clareza notável. O filme traz testemunhos de homens e mulheres que sobreviveram ao comunismo totalitário na Europa Oriental. Essas histórias ecoam ao longo das décadas com uma ressonância que ignoramos por nossa conta e risco.
O que mais inquieta na adaptação da obra de sucesso de Rod Dreher é a crescente percepção de que seus alertas já se tornaram nossa realidade. O filme nos apresenta a cristãos corajosos que, sob o domínio soviético, enfrentaram vigilância, intimidação e prisão simplesmente por se recusarem a fingir que o mal era bom. Ao compartilharem suas histórias, sentimos uma familiaridade inquietante: a exigência de afirmar ideologias que sabemos ser falsas, a punição pela dissidência e a corrosão lenta da consciência. A questão já não é “Poderia acontecer aqui?” mas sim “Até onde já chegou?”.
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A mesma dinâmica exposta por Dreher — forças estatais e culturais conspirando para esmagar a dissidência — está viva no Ocidente contemporâneo. Considere o caso de Isabel Vaughan-Spruce, uma mulher que foi presa não por vandalismo ou atos de violência, mas pelo crime silencioso de orar mentalmente perto de uma clínica de aborto em Birmingham, Inglaterra. Sem slogans, sem cartazes — apenas a comunhão privada de seus pensamentos com Deus. Ela foi interrogada pela polícia, revistada, acusada e levada a julgamento. Foi considerada inocente, mas logo foi presa novamente semanas depois pelos mesmos pensamentos no mesmo local. Felizmente, após uma longa e exaustiva investigação, Isabel recebeu uma compensação da polícia com o apoio da ADF International.
De acordo com o Daily Wire, Adam Smith-Connor, um veterano do exército, também foi afetado. Ele ficou em silêncio e imperceptivelmente em oração perto de outra clínica em Bournemouth, na Inglaterra, em memória de seu filho perdido. Ele também foi interrogado pela polícia e criminalizado pelo conteúdo de sua consciência, resultando em uma condenação e uma acusação criminal. Adam foi ordenado a pagar £9.000 à corte — talvez a oração de três minutos mais cara da história.
Esses casos são como canários na mina de carvão. Eles nos alertam sobre o que acontece quando o Estado se arroga o poder de policiar a convicção interior. No romance “1984”, George Orwell chamou isso de “crime de pensamento”. Hoje na Grã-Bretanha, é chamado de “zona de proteção”, mas o princípio é o mesmo: certas crenças não devem apenas ser suprimidas — devem ser erradicadas da praça pública.
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Não Vivas pela Mentira” é um chamado urgente para redescobrir a coragem moral. Dreher se inspira no legado de Vaclav Havel, Alexander Solzhenitsyn e inúmeros cristãos comuns que se recusaram a viver pela mentira. Eles foram forçados a fingir que o Partido era infalível, que o marxismo era inevitável, que o Estado era Deus. Hoje, nossos comissários culturais exigem nossa lealdade a um conjunto diferente de dogmas — que o sexo biológico é uma construção, que a vida não nascida é descartável, que a fé deve ficar atrás de portas fechadas e nunca na vida pública. Mas o impulso é o mesmo: curve-se ou seja quebrado.
O documentário é um lembrete de que a resistência começa não com grandes gestos, mas com a recusa de falar a mentira. Quando as autoridades vieram interrogar crentes em Praga, exigiram não apenas conformidade, mas confissão: “Diga que você concorda. Diga que você acredita.” Muitos não o fizeram. Por isso, perderam empregos, foram colocados em listas negras e até mesmo presos. No entanto, sua recusa em dizer o que não acreditavam foi a semente da qual a liberdade eventualmente brotou.
Quantos hoje estão dispostos a pagar esse preço? Gostamos de nos imaginar diferentes — mais sofisticados, mais democráticos, mais tolerantes. Mas as evidências se acumulam de que nossa cultura é simplesmente viciada em uma forma mais suave de totalitarismo: conformidade forçada através da ameaça de ruína profissional, assassinato de reputação ou — se você ousar orar silenciosamente — processo criminal.
Não há ilustração mais potente dessa deriva do que as perseguições de Vaughan-Spruce e Smith-Connor. Em cada caso, o Estado alegou estar protegendo “mulheres vulneráveis”, mas nenhuma evidência foi apresentada de que esses indivíduos assediaram ou intimidaram alguém. A verdadeira questão foi que sua mera presença — e suas orações silenciosas — expressaram uma convicção que o Estado considera intolerável. Os soviéticos chamavam isso de “agitação anti-soviética”. Nós chamamos de “interferência”. Em ambos os casos, o pensamento em si é o crime.