O embaixador do Brasil na Itália, Renato Mosca, reconheceu que a polícia italiana enfrenta obstáculos para prender a deputada federal afastada Carla Zambelli (PL-SP), condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos e oito meses de prisão por suposta invasão aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em entrevista à Folha de S.Paulo publicada na terça-feira, 10 de junho de 2025, Mosca explicou que a ausência de um mandado de busca impede ações como a entrada em residências privadas, limitando a prisão a situações em locais públicos. “Isso dificulta, mas não há outro caminho”, afirmou.
Zambelli deixou o Brasil após a condenação, viajando primeiro para os Estados Unidos e depois para a Itália, onde entrou com passaporte de dupla cidadania horas antes de a Polícia Federal (PF) solicitar sua inclusão na lista de “difusão vermelha” da Interpol. Até o momento, seu nome não consta na lista pública da organização. Mosca esclareceu que Zambelli passou pelos controles migratórios do Aeroporto Internacional de Roma sem impedimentos, pois o pedido da PF ainda não havia sido formalizado.
O embaixador informou que não há dados sobre o paradeiro da deputada na Itália. As autoridades brasileiras mantêm diálogo com as italianas por meio de um adido da PF e da embaixada, que também se comunica com os ministérios italianos das Relações Exteriores e do Interior. Mosca destacou que o processo de extradição só pode começar após a detenção de Zambelli e enfatizou que a cidadania italiana não a torna imune à Justiça. Ele citou que, desde 2024, 14 processos de extradição estão em andamento na Itália, quatro envolvendo pessoas com dupla nacionalidade, incluindo a extradição de um ítalo-brasileiro em 2025. “A cidadania italiana não torna intocáveis aqueles em débito com a Justiça”, declarou.
A Constituição italiana permite a extradição de seus cidadãos em casos previstos por acordos internacionais, como o tratado bilateral Brasil-Itália, vigente desde os anos 1990. Mosca acredita que há elementos para um “desfecho favorável” à Justiça, independentemente dos interesses de Brasil ou Itália, de acordo com a Revista Oeste.