Tasnim News Agency/Wikimedia Commons

Na segunda-feira, 19 de maio de 2025, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília divulgou uma oferta de até R$ 10 milhões por informações sobre as operações financeiras do grupo libanês Hezbollah na região da Tríplice Fronteira, que abrange Brasil, Argentina e Paraguai, conforme reportado pelo jornal O Estado de S. Paulo. A nota, publicada em português, aponta possíveis práticas de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e comércio ilícito envolvendo o grupo, incluindo negócios de fachada, comércio exterior, construção civil e venda de imóveis.

O anúncio coincidiu com a chegada do almirante Alvin Holsey, chefe do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA, a Brasília, para reuniões com o ministro da Defesa, José Múcio, e comandantes das Forças Armadas brasileiras. A simultaneidade gerou desconforto entre militares brasileiros, que, sob anonimato, classificaram a iniciativa como um gesto hostil. Oficiais do Exército criticaram a abordagem midiática dos EUA, que ignorou canais formais de cooperação. A tensão aumentou após Holsey recusar visitar uma base na Amazônia, devido à exigência do Comando Militar da Amazônia de seguir protocolos, levando ao cancelamento da visita.

A Tríplice Fronteira é considerada uma área sensível pelas Forças Armadas brasileiras, que mantêm controle com militares, policiais e colaboração da Polícia Federal. Há preocupações de que a ação dos EUA sugira intenções de operar à margem das instituições brasileiras, prática observada em outros países latino-americanos. A embaixada americana, por sua vez, alega que o Hezbollah utiliza atividades comerciais e ilícitas para financiar operações na América do Sul, incentivando denúncias via Signal, Telegram, WhatsApp ou telefone ao Departamento de Estado.

O anúncio reacendeu investigações sobre a presença do Hezbollah no Brasil. Em 2023, a Polícia Federal prendeu o traficante turco Eray Uç em Santos, com documentos falsos, acusado de integrar uma rede ligada ao Hezbollah e ao Primeiro Comando da Capital (PCC), com envolvimento no tráfico de drogas. Uç planejava produzir haxixe “Dry Marroquino” em um laboratório no litoral paulista. Outro caso citado é o de Ali Issa Chamas, preso no Paraguai, extraditado para os EUA e mencionado em audiência no Congresso americano como financiador do Hezbollah via narcotráfico, segundo a Revista Oeste.

O Estadão questionou a Embaixada dos EUA e o Itamaraty sobre a comunicação prévia do anúncio, o respeito à soberania brasileira e os procedimentos para ações decorrentes das informações, mas não obteve respostas até o momento.

Icone Tag