Investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) sobre fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revelaram práticas irregulares de entidades que realizavam múltiplos descontos no mesmo dia em benefícios de aposentados e pensionistas. Em alguns casos, erros idênticos na grafia de nomes de segurados foram detectados, levantando suspeitas de uma “indústria de termos de descontos ilegítimos”, conforme apontou a CGU.
O relatório detalha situações como a de dois beneficiários cujas autorizações de desconto foram enviadas simultaneamente à Dataprev pelas entidades AAPB e Club AZ. Em outro caso, as associações Aapen e AASPA registraram autorizações com o mesmo erro de digitação no nome de um segurado, também na mesma data. Essas coincidências reforçaram a desconfiança de fraudes coordenadas.
Em abril de 2024, entrevistas com 35 aposentados em Raposa, Maranhão, revelaram que todos desconheciam as entidades responsáveis pelos descontos, negaram ter autorizado qualquer cobrança e afirmaram não terem sido contatados para ofertas de serviços. Alguns segurados com dois benefícios sofreram descontos em ambos, direcionados a diferentes associações. A CGU destacou um caso em que aposentadas do Nordeste tinham descontos vinculados a uma entidade localizada a 386 km de suas residências, em Raposa, apesar da existência de um sindicato local de pescadores.
Entre 2019 e 2024, as entidades investigadas arrecadaram cerca de R$ 63 bilhões por meio de descontos indevidos, segundo o relatório. A investigação foi iniciada após um aumento abrupto nas cobranças registradas na folha de pagamento do INSS. Das 127 mil pessoas entrevistadas, 976% negaram ter autorizado os descontos, e 959% afirmaram não serem associadas às entidades.
A CGU também constatou que muitas dessas associações operavam em sedes precárias, como imóveis pequenos sem mobília ou residências improvisadas, incapazes de atender o grande número de supostos associados em todo o país. Mesmo as que possuíam estrutura razoável não tinham capacidade para justificar a abrangência nacional dos descontos. Arquivos enviados à Dataprev com dados de beneficiários frequentemente vinham de pessoas não autorizadas pelas associações, evidenciando irregularidades na gestão das autorizações, de acordo com a Revista Oeste.