INN:AP / Israel National News / Reprodução

Dr. Avi Perry é ex-professor da Northwestern University, ex-pesquisador e gerente da Bell Labs, e atuou como vice-presidente da NMS Communications. Ele representou os Estados Unidos no Comitê de Padrões da União Internacional de Telecomunicações (ITU) da ONU, onde escreveu partes significativas do padrão G.168. É autor do romance de suspense 72 Virgins e de um livro da Cambridge University Press sobre qualidade de voz em redes sem fio, além de contribuir regularmente com artigos de opinião para o The Jerusalem Post e o Israel National News.

Recentemente, o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou seu plano de 20 pontos para encerrar a guerra em Gaza. Ele o apresentou com sua típica ousadia, prometendo interromper o derramamento de sangue, garantir a libertação de reféns, levar ajuda humanitária para Gaza e abrir caminho para uma paz de longo prazo. No papel, o plano parecia amplo, abrangente e até generoso. No entanto, poucas horas após a resposta do Hamas, sua falha fatal ficou evidente.

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O Hamas respondeu com o que, à primeira vista, parecia uma aceitação cautelosa – um “sim” ofuscado por qualificações. Mas essas qualificações não eram detalhes menores. Na verdade, eram rejeições diretas das demandas centrais do plano. Na diplomacia, o “mas” muitas vezes supera o “sim”. Nesse caso, o “sim… mas” do Hamas é simplesmente um “não” firme.

Os três pilares da recusa

A rejeição se resume a três pontos decisivos.

Primeiro, o Hamas se recusa a desarmar. O plano de Trump se baseava no conceito de Gaza se tornar uma zona desmilitarizada e livre de terror. Sem desmilitarização, a paz é impossível. Israel tem sido consistente nesse ponto desde o início: uma Gaza que continua a estocar armas, cavar túneis e reconstruir arsenais de foguetes é uma Gaza que ameaçará perpetuamente os civis israelenses. A recusa do Hamas aqui não é simbólica – é uma declaração aberta de intenção de permanecer armado e perigoso.

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Segundo, o Hamas se recusa a libertar todos os reféns em 72 horas. Trump estabeleceu isso como um marco inicial de credibilidade. A libertação imediata de reféns, vivos e falecidos, seria a base da confiança e um gesto humanitário sinalizando uma ruptura genuína com o terror. A resposta do Hamas – de que tal demanda é “inviável” – não é uma questão de logística. É uma tática. Os reféns há muito tempo são fichas de barganha do Hamas, seu escudo humano contra pressões. Adiar sua libertação é manter a alavancagem. Na prática, a recusa do Hamas nesse ponto sinaliza que não há interesse em reduzir o sofrimento de inocentes ou em construir boa vontade.

Terceiro, o Hamas se recusa a deixar Gaza ou aceitar passagem segura para outro lugar. O plano de Trump permitia aos membros do Hamas uma escolha: desarmar e permanecer, ou deixar Gaza sob garantias internacionais. Ambas as opções foram rejeitadas. A mensagem é inconfundível – o Hamas pretende continuar governando Gaza, não como administradores da vida civil, mas como a vanguarda autodesignada de uma guerra permanente.

Quando examinados juntos, essas três recusas equivalem a uma rejeição total da visão de Trump. Sem desmilitarização. Sem libertação oportuna de reféns. Sem saída da liderança do Hamas. O que resta? Nada de substancial.

O erro de cálculo de Trump

O problema não é apenas a rejeição do Hamas. É também o erro de cálculo de Trump. O presidente dos Estados Unidos elogiou seu plano como um avanço, enfatizando o “acordo em princípio” do Hamas. Mas ele caiu na armadilha de ouvir a palavra “sim” e ignorar as condições que a anulam.

Isso não é a primeira vez que negociadores tropeçam na miragem de uma aceitação condicional. A história está repleta de negociações de paz em que um lado disse “sim” para as manchetes, mas “não” nos detalhes. Do posicionamento hesitante de Yasser Arafat em Camp David às “promessas” intermináveis da Coreia do Norte sobre desnuclearização, o padrão é o mesmo: concordar com o quadro, depois esvaziar seu significado rejeitando obrigações centrais.

Trump, em sua ânsia por reivindicar vitória, ignorou o “mas”. Ao fazer isso, ele arrisca legitimar a intransigência do Hamas. Ao tratar a resposta deles como algo diferente de rejeição, ele inadvertidamente enfraquece a credibilidade de seu próprio plano.

A linha de fundo de Israel

Para Israel, as demandas nunca mudaram. Elas são claras, simples e inegociáveis:

Essas não são questões secundárias a serem barganhadas em negociações intermináveis. Elas são a essência do esforço de guerra de Israel e o pré-requisito para qualquer paz sustentável. Sem elas, Gaza permanece uma plataforma de lançamento para o terror, as famílias israelenses continuam reféns da crueldade do Hamas, e Israel permanece em um estado perpétuo de cerco.

O Hamas sabe disso. É por isso que sua rejeição é enquadrada como um “sim… mas”. Eles esperam explorar a pressão internacional, se apresentar como razoáveis e pintar Israel como o estraga-prazeres se o acordo ruir. Mas por trás da fumaça diplomática, sua mensagem é clara: o Hamas pretende ficar, e o Hamas pretende lutar.

A armadilha mais ampla

A estratégia do Hamas não é apenas rejeitar os termos de Israel. É jogar para o público global. Ao emitir declarações que parecem conciliatórias – “aceitamos, mas” – eles transferem a culpa para Israel e seus aliados. Se Trump, ou qualquer outro, aceitar esse enquadramento, o Hamas ganha uma vitória de propaganda mesmo enquanto se prepara para a próxima rodada de conflito.

Essa tática espelha estratégias de propaganda anteriores. Assim como o Hamas lança foguetes de bairros civis para maximizar imagens de sofrimento civil, eles agora lançam respostas meia-boca a propostas de paz para maximizar a confusão diplomática. Seu objetivo não é a coexistência. É a sobrevivência como movimento e a preservação de seu controle sobre Gaza.

De acordo com o Israel National News, as apostas para Trump

A credibilidade de Trump como negociador agora está em jogo. Ele se orgulha de ser um fazedor de acordos que pode ter sucesso onde outros falharam. Mas acordos exigem que ambos os lados aceitem os fundamentos. Ao apresentar o “sim… mas” do Hamas como algo aquém de rejeição, Trump arrisca parecer ingênuo. Pior, ele arrisca ser visto como um facilitador da decepção do Hamas.

O perigo é claro: se Trump declarar progresso onde não existe, então suas ameaças de consequências por rejeição perdem força. O Hamas saberá que ele não está disposto a reconhecer um “não” mesmo quando ele o encara. Sua alavancagem desaparece. Sua credibilidade com Israel e seus aliados erode. E sua promessa de impor consequências se torna pouco mais que bravata.

A verdade inevitável

A verdade inevitável é esta: a resposta do Hamas é Não. Não um sim parcial. Não uma oferta inicial. Não um caminho para compromisso. Um não completo, intransigente e inequívoco.

Até que o Hamas saia de Gaza, até que Gaza seja desmilitarizada e até que todos os reféns sejam libertados em 72 horas, não pode haver coexistência pacífica. Qualquer plano – de Trump ou de qualquer outro – que ignore essa realidade está condenado ao fracasso. O mundo pode desejar atalhos, mas a segurança de Israel e a estabilidade regional não podem ser construídas sobre ilusões.

Conclusão

O plano de Trump era ambicioso, amplo e até ousado. Mas ambição não é suficiente quando colide com a realidade. A recusa do Hamas em desarmar, em libertar todos os reféns em 72 horas e em renunciar ao controle de Gaza não é uma questão de discutir detalhes. Essas recusas atingem o cerne das condições que Israel – e qualquer estrutura realista para a paz – exige.

A linha de fundo de Israel é cristalina:

Sem essas três condições, não pode haver cessar-fogo, coexistência ou paz. A resposta do Hamas, disfarçada de “sim… mas”, foi na verdade uma rejeição direta de todas as três.

Se Trump insistir em girar essa rejeição como uma abertura, ele arrisca minar sua própria credibilidade. Um fazedor de acordos não pode se dar ao luxo de confundir ilusões com acordos, nem pode ignorar a essência do que a paz exige. A menos que ele reconheça a resposta do Hamas pelo que é – um Não claro e intransigente – suas ameaças, promessas e propostas soarão vazias.

E uma vez que a credibilidade é perdida, ela se vai não apenas para Trump, mas para a própria possibilidade de uma negociação séria.

O Hamas falou. Sua resposta é não. As demandas de Israel são inegociáveis. O mundo deve enfrentar essa realidade, não se entregar a ilusões.

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