Com o aumento das ameaças cibernéticas, Israel avança na busca por soberania digital, destacando o papel estratégico de infraestruturas seguras, uso de VPNs e inovações tecnológicas na defesa dos interesses nacionais.
A reputação de Israel em cibersegurança é consolidada, mas o debate está se ampliando. A soberania cibernética, antes vista principalmente sob lentes de defesa ou regulatórias, agora é considerada uma questão central de infraestrutura. Questões sobre controle, acesso a dados e independência digital começam a moldar o planejamento de resiliência em diversos setores.
Incidentes cibernéticos recentes ligados a atores estrangeiros expuseram uma vulnerabilidade chave: grande parte do ecossistema digital de Israel ainda depende de plataformas externas. Provedores de nuvem, sistemas de acesso remoto e redes gerenciadas globalmente são centrais em tudo, desde serviços municipais até operações financeiras. À medida que essa dependência cresce, os riscos também aumentam. Interrupções de sistemas, exposição de dados e desafios jurisdicionais não são mais preocupações hipotéticas; são ameaças ativas que demandam uma resposta nacional coordenada.
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O que surge é um sinal claro de política. A resiliência digital de longo prazo exige mais do que capacidades de defesa. Requer um esforço coordenado para garantir controle sobre fluxos de dados, acesso à infraestrutura e arquitetura de sistemas. A soberania cibernética está se moldando não apenas como um imperativo de segurança, mas como uma questão de infraestrutura nacional.
A soberania cibernética em Israel entrou na agenda de segurança nacional. Agora é tratada como uma preocupação estrutural ligada à governança e proteção de infraestruturas críticas. No centro disso está a crescente preocupação com o controle da infraestrutura: quem gerencia os sistemas que mantêm o país funcionando e quanto desse controle ainda é mantido no exterior.
Essa preocupação não surge do nada, pois no ano passado grupos ligados ao Irã atacaram repetidamente a infraestrutura israelense. Uma série de ataques focou em sistemas de água e reguladores de energia, explorando falhas como senhas padrão e softwares não atualizados. As ferramentas eram simples, mas o impacto foi extenso. A Diretoria Nacional de Cibersegurança de Israel emitiu alertas públicos pedindo aos operadores que reforçassem o acesso, enquanto agências internacionais sinalizaram as mesmas vulnerabilidades. Esses alertas não vieram isolados; seguiram um padrão de tensão regional crescendo, seguido de pressão digital.
O que esses incidentes deixam claro é que ameaças cibernéticas não podem mais ser tratadas como problemas técnicos com soluções técnicas. São disrupções estratégicas. A infraestrutura é digital, mas as consequências são físicas, com serviços atrasados, sistemas expostos e dissuasão enfraquecida.
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Para Israel, o argumento pela soberania cibernética fica mais evidente: se o controle sobre sistemas chave é terceirizado, parte da postura de segurança do país também é.
À medida que os riscos cibernéticos evoluem, mais organizações em Israel recorrem a ferramentas que oferecem maior privacidade e controle sobre o movimento de dados. VPNs, antes associadas principalmente à proteção de navegação individual, agora são adotadas em uma ampla gama de setores. Apesar de a infraestrutura de VPN de nível empresarial custar milhões de dólares por ano para implementação em escala, as VPNs se tornaram um componente básico de estratégias de acesso seguro em setores como saúde e finanças.
Essa mudança vai além do governo e da defesa. Setores como saúde, finanças e educação em Israel agora operam com tráfego criptografado como padrão. É assim que os sistemas permanecem protegidos e os dados sensíveis se movem sem interrupções. Com mais serviços migrando para online e equipes trabalhando além das fronteiras, o acesso seguro se tornou parte da infraestrutura cotidiana.
De acordo com o Israel National News, o mercado global de VPNs, incluindo serviços corporativos e de acesso remoto, deve expandir de aproximadamente 2,2 bilhões de dólares em 2025 para 5,6 bilhões de dólares até 2033, refletindo como organizações mundiais estão tornando as VPNs um padrão para acesso seguro em operações híbridas e remotas. Na saúde especificamente, embora as VPNs não sejam obrigatórias pela HIPAA, muitas instituições as usam como medida central de segurança, criptografando dados em trânsito, restringindo acesso e apoiando conformidade com salvaguardas regulatórias.
Para gerenciar riscos e manter acesso, equipes remotas nos setores de fintech e healthtech de Israel frequentemente precisam de acesso a sistemas em nuvem que só permitem endereços IP confiáveis, como uma VPN com IP dedicado para atender a esse requisito, permitindo acesso criptografado e autenticado a ferramentas como portais de faturamento, plataformas de telemedicina e painéis internos, evitando disrupções e barreiras de login.
Notavelmente, VPNs com IP dedicado se tornaram essenciais quando o acesso a plataformas depende de listas brancas de IP ou filtros baseados em país. Um IP dedicado garante conectividade estável e criptografada de um endereço consistente, suportando acesso a painéis bloqueados por região, serviços em nuvem e sistemas internos sensíveis. Opções de VPNs começam a partir de poucos dólares por mês, o que pode oferecer uma solução prática para equipes menores, ONGs ou contratados independentes trabalhando além das fronteiras digitais.
Provedores de saúde dependem de acesso restrito por IP para salvaguardar dados de pacientes e manter conformidade com regulamentações de privacidade como HIPAA e padrões ISO. O Clalit Health Services, por exemplo, depende de infraestrutura de desktop virtual baseada em Citrix para entregar cuidados remotos e coordenar dados de pacientes de forma segura por meio de sua Rede Ofek. Da mesma forma, o LeumiTech, um provedor líder de serviços bancários para startups israelenses, opera além das fronteiras e requer acesso robusto a APIs privadas e plataformas financeiras sem acionar bloqueios baseados em IP.
A questão mais ampla é a dependência de infraestrutura. Muitos dos serviços críticos para instituições israelenses são hospedados ou roteados por plataformas externas. Embora as VPNs ofereçam uma camada de proteção, elas também destacam um desafio mais profundo, como garantir operações quando a infraestrutura em si nem sempre está sob controle do país.
O setor de tecnologia de Israel é construído sobre velocidade, escala e ambição. Mas à medida que suas ferramentas de cibersegurança ganham alcance global, questões sobre supervisão se tornam mais difíceis de ignorar. O desafio agora é encontrar espaço para inovar sem perder o controle sobre como essas inovações são usadas ou percebidas.
O NSO Group, uma empresa cibernética israelense, é um exemplo. O Pegasus, seu spyware principal, já recebeu elogios por ajudar a aplicação da lei a rastrear criminosos. Essa reputação se desfez quando um tribunal dos EUA ordenou que o NSO pagasse 168 milhões de dólares em danos à Meta, após o Pegasus ser usado para acessar contas do WhatsApp ligadas a jornalistas, diplomatas e grupos de direitos humanos. A decisão trouxe atenção renovada para como ferramentas de vigilância são implantadas e qual responsabilidade cabe às empresas que as constroem.
Pressão diplomática seguiu, com o NSO permanecendo na Lista de Entidades do Departamento de Comércio dos EUA, limitando seu acesso a tecnologia americana; tentativas de reverter a decisão também foram negadas. Para reguladores israelenses, a mensagem chegou: parceiros globais não separam mais inovação de responsabilidade.
Mudanças de política estão em andamento, com estruturas de criptografia, licenças de exportação e supervisão interna sendo apertadas. A Diretoria Nacional de Cibersegurança está trabalhando com o Ministério da Defesa de Israel e a unidade Matzov das Forças de Defesa de Israel para trazer mais estrutura à classificação e controle de ferramentas cibernéticas. Não é uma redefinição total, mas a mudança está acontecendo, de forma discreta e com urgência crescente.
A abordagem de Israel à soberania cibernética se desenrola em paralelo com tendências internacionais mais amplas. Para manter acesso comercial aos mercados da União Europeia, deve se alinhar aos padrões GDPR. E no âmbito da defesa, a colaboração de longa data entre EUA e Israel está se tornando mais operacional, com o Cyber Dome VII marcando um investimento contínuo em prontidão conjunta.
O alcance de Israel em parcerias cibernéticas se estende ao Oriente Médio. Sob os Acordos de Abraham, uniu-se aos Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos em esforços compartilhados de inteligência contra ameaças cibernéticas. O projeto “Crystal Ball”, apoiado pela Rafael Advanced Defense Systems e pelos Emirados Árabes Unidos, visa detectar e repelir ataques em toda a região.
A cooperação defensiva também inclui sistemas financeiros. Desde 2021, o Tesouro dos EUA e o Ministério das Finanças de Israel perseguem acordos bilaterais de cibersegurança para proteger infraestrutura econômica crítica. Outra plataforma emergente é o I2U2 (Índia, Israel, Emirados Árabes Unidos, EUA), que inclui inovação em cibersegurança entre suas áreas de colaboração público-privada.
Essas parcerias não são apenas relações públicas diplomáticas. Elas enviam uma mensagem aos cidadãos e empresas israelenses: a infraestrutura deve ser segura, interoperável e resiliente. De acordos de dados em salas de reunião a exercícios cibernéticos compartilhados, as parcerias globais de Israel reforçam a política doméstica e enfatizam a necessidade de bases seguras em serviços que afetam todos os cidadãos.
A abordagem de Israel à soberania cibernética está se moldando em torno de poucas prioridades centrais, como controle sobre infraestrutura, clareza sobre roteamento de dados e um modelo de segurança nacional que considera plenamente as ameaças digitais. Isso significa construir sistemas que possam operar de forma independente, resistir a pressões externas e ainda atender padrões globais.
Serviços criptografados, VPNs com IP dedicado e exercícios transfronteiriços todos têm um papel, mas a base está em outro lugar. A política deve acompanhar a capacidade. A infraestrutura deve ser governada, não apenas otimizada. E o público, seja instituições ou indivíduos, precisa entender o que está em jogo quando sistemas chave são gerenciados no exterior.
O próximo capítulo da resiliência nacional de Israel não dependerá apenas da defesa física. Será moldado por como o país assegura seu terreno digital, por meio de regulação, arquitetura e cooperação global.