Há cinquenta anos, o então primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, afirmou de forma clara: “Israel não é uma república de bananas”. Ele não estava apenas se exibindo; estava traçando um limite. Quando um aliado usa pressão pública para dobrar a vontade de Israel em decisões soberanas centrais, Jerusalém deve reagir com educação, firmeza e um plano para reduzir pontos de dependência que convidam a alavancagem.
Nos últimos dias, o alerta de Begin ganhou nova relevância. Em 23 de outubro de 2025, o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou em uma entrevista que estava “tomando uma decisão” sobre pressionar pela libertação de Marwan Barghouti, o terrorista condenado e figura do Fatah que cumpre múltiplas sentenças de prisão perpétua.
Enquanto isso, o vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, nesta semana qualificou uma votação no Knesset como “estúpida” e “insultante”.
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De acordo com o Israel National News, um oficial dos EUA alertou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu: “Se ele estragar o acordo [referindo-se a Gaza], Donald Trump vai ferrá-lo”. Isso não é diplomacia. É pressão aberta sobre o sistema político de Israel.
Não é a primeira vez que Trump opta por demonstrar poder diante das câmeras, em vez de nos bastidores. Em 28 de fevereiro de 2025, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, esteve na Casa Branca para o que deveria ser uma reunião rotineira. Em vez disso, no Salão Oval, ele foi repreendido de forma dura e visivelmente deixado de lado diante da imprensa. Essa mesma dinâmica de “homem forte no palco” agora é direcionada a Israel.
Alguns minimizam isso como “apenas Trump sendo Trump”. Mas quando um presidente dos EUA fala dessa forma, tanto aliados quanto adversários prestam atenção – e os adversários ouvem algo perigoso: uma brecha entre Israel e Washington que pode ser explorada.
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Se Israel não quer ser tratado como uma república de bananas, deve garantir que pode se sustentar sozinho em áreas críticas. Isso não significa romper com Washington, mas tornar a alavancagem americana menos absoluta.
Israel pode alcançar isso ao aumentar gradualmente sua capacidade de produzir e armazenar armas e sistemas defensivos chave em território nacional, expandir a resiliência em energia e logística, fortalecer redes independentes de inteligência e comunicações, e construir reservas financeiras que reduzam a exposição a pressões políticas em Washington. Pode aprofundar laços com outras nações amigas para evitar depender de um único parceiro.
E, talvez o mais importante, deve tratar a diplomacia com os EUA como uma relação entre iguais: desacordos devem ser gerenciados de forma discreta e estratégica – não em um palco público onde a humilhação faz parte do roteiro.
O desafio de Netanyahu agora é evitar se tornar um acessório no teatro político de outra pessoa. Zelenskyy permitiu que o presidente controlasse as aparências e a narrativa. Netanyahu é experiente demais para cair nessa armadilha. Ele pode minimizar a exposição ao gerenciar rigorosamente aparições conjuntas, falar por meio das instituições de Israel em vez de apelos pessoais, e projetar soberania com calma, em vez de defensividade.
Ao manter questões sensíveis em canais diplomáticos privados e preservar laços bipartidários amplos em Washington, ele pode neutralizar a pressão pública de Trump sem escalá-la. Begin fez isso com firmeza discreta; Netanyahu também pode.
Isso não se trata de se afastar de Washington. A cooperação entre EUA e Israel salva vidas, fortalece a dissuasão e projeta valores compartilhados. Mas as melhores alianças são entre iguais, não entre um patrono e um dependente. A tarefa de Israel é garantir que, quando um presidente dos EUA tentar “dar as cartas”, Israel ainda segure o gatilho.
Begin não apenas discursou sobre repúblicas de bananas; ele construiu uma política para garantir que Israel não fosse uma. Chegou a hora de fazer isso novamente – não com raiva, mas com clareza, estratégia e força discreta.









