No dia 16 de dezembro de 2025, durante a recepção de Hanukkah na Casa Branca, nos Estados Unidos, uma celebração pública de fé, dignidade das minorias e liberdade sob a lei, uma doadora bilionária judia declarou publicamente que financiaria um terceiro mandato para o presidente Trump, citando Alan Dershowitz como o consultor legal que poderia “fazer funcionar”, o que alimenta desnecessariamente teorias conspiratórias antissemitas.
Em contraste, o próprio presidente Trump, o maior amigo que o povo judeu já teve na Casa Branca, prometeu honrar a 22ª Emenda da Constituição dos EUA, o que merece grande reconhecimento.
A promessa pública de Miriam Adelson – “Vou dar mais 250 milhões de dólares” no contexto de um terceiro mandato, feita em um evento religioso – envergonha a comunidade judaica e intensifica teorias conspiratórias antissemitas em um momento em que isso é especialmente prejudicial.
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No entanto, um fato que os americanos devem destacar e elogiar: o presidente Trump reconheceu explicitamente o limite constitucional e afirmou que não buscaria um terceiro mandato. Isso é importante para o país e para os judeus, pois os judeus prosperam quando a lei prevalece sobre o dinheiro e sobre qualquer líder, por mais amigo que seja.
Ninguém foi maior amigo de Israel do que Trump, e esperamos que em três anos um sucessor igualmente forte o substitua. Mas sugerir o uso de dinheiro para contrariar a Constituição deve ser repudiado publicamente pela comunidade judaica americana.
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Por mais justa e generosa que seja uma cidadã rica, a América pertence ao povo. Se a comunidade judaica não defender isso publicamente, mais antissemitas como Zohran Mamdani serão eleitos com plataformas contra os ricos.
Trump afirmou claramente: “Não posso concorrer. É uma pena”.
No final de outubro de 2025, o presidente Trump fez uma declaração inequívoca a bordo do Air Force One, que deveria encerrar as discussões sobre um terceiro mandato em círculos responsáveis: “Se você ler, está claro – não posso concorrer. É uma pena, mas temos muitas pessoas ótimas”.
Conforme relatado por Israel National News, a PBS noticiou isso em 29 de outubro de 2025, destacando que foi uma mudança notável após meses de provocações sobre “testar” a linguagem constitucional.
Essa é a postura correta. É a posição de um presidente afirmando que sua popularidade não está acima da Constituição. Quando um líder confirma publicamente a restrição constitucional, especialmente após cogitar limites, ele presta um serviço ao país.
O presidente Trump merece elogios por dizer o que todo presidente deve afirmar: a Constituição é maior que qualquer indivíduo.
Se você apoia Trump, deve querer que ele seja lembrado não só como um lutador, mas como um homem que respeitou as barreiras que separam uma república de um culto à personalidade.
A lei em questão é a 22ª Emenda.
Para ser preciso, a barreira constitucional é a 22ª Emenda, que limita uma pessoa a ser eleita presidente no máximo duas vezes. Seu propósito é claro: impedir que qualquer presidente, de esquerda ou direita, transforme o executivo em uma “monarquia” semipermanente.
Os Estados Unidos adotaram essa norma após as quatro eleições sem precedentes de Franklin D. Roosevelt. Os americanos decidiram: nunca mais. Não porque Roosevelt fosse como Hitler – ele foi o oposto, salvou a América de Hitler, embora não tenha feito nada para salvar os judeus da Europa – mas porque o poder concentrado sempre se torna uma tentação e, eventualmente, um perigo.
Isso não é mera tecnicalidade legal. É um princípio moral americano: a liderança deve ser renovável.
Até Mike Johnson disse que não há “caminho”.
Se alguém em Washington entende os mecanismos constitucionais, é o presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Mike Johnson, um advogado constitucional. Ele afirmou publicamente que não vê “caminho” para Trump concorrer novamente, enfatizando a dificuldade de emendar a Constituição e obter ratificação dos estados.
Então, eis a pergunta que deve ser feita de forma clara e direta: por que Miriam Adelson e Alan Dershowitz, duas figuras conhecidas e respeitadas, escolheram declarar uma provocação constitucional? E por que em uma festa de Hanukkah? E por que logo após o massacre de Bondi?
Se Trump diz “não posso” e Johnson diz “não há caminho”, por que uma doadora judia levanta a ideia de contornar limites constitucionais?
Há apenas duas explicações plausíveis, e ambas são altamente problemáticas: 1. Eles acreditam que a Constituição é negociável; 2. Achavam que era apenas uma brincadeira divertida, alheios a como isso seria recebido em um país saturado de ódio aos judeus.
De qualquer forma, é imprudente.
Hanukkah é um festival de lei e limites, não um palco para declarações provocativas.
Hanukkah não é só velas e latkes. É uma declaração de que um povo pode viver com integridade sob a lei, resistindo à tirania e à humilhação.
Na América, os judeus alcançaram liberdade sem precedentes porque os EUA são uma nação onde a lei reina. Quando judeus parecem zombar dessa lei – especialmente na Casa Branca, especialmente com dinheiro envolvido – convidam ridículo e desastre.
O judaísmo ensina “dina d’malchuta dina”: a lei da terra é obrigatória. Isso não significa que toda lei é perfeita. Significa perseguir mudanças por processos cívicos legítimos – persuasão, eleições, legislação e, sim, emenda constitucional se a nação quiser amplamente.
Não significa falar em ignorar a Constituição em eventos religiosos porque se pode financiá-la.
Se os judeus querem segurança na América, devem ser defensores da ordem constitucional, não promotores de sabotagem constitucional.
O massacre de Sydney tornou o momento terrível.
O timing piora tudo. O mundo judaico não vive tempos normais. O antissemitismo não é preocupação teórica. É sangue nas ruas.
Dias atrás, judeus assistiram ao horror do ataque à celebração de Hanukkah em Bondi Beach, em Sydney, na Austrália – onde minha esposa cresceu e onde servi como rabino por dois anos – uma atrocidade que matou 15 pessoas e abalou a Austrália e o mundo judaico.
Em um momento como esse, a comunidade judaica precisa de solidariedade pública e seriedade moral. Precisamos que o país veja os judeus como cidadãos buscando paz, segurança e proteção igual sob a lei.
Entregar aos antissemitas seu clichê favorito na Casa Branca, durante Hanukkah – ouvir uma judia oferecer um quarto de bilhão de dólares por poder político além dos limites constitucionais – não é só surdo. É autodestrutivo.
Conheço e admiro Miriam Adelson há vinte anos: ela fez um bem imenso e incalculável. Foi generosa, corajosa e profundamente comprometida com causas judaicas e Israel. É uma mulher justa em todos os sentidos.
Mas Miriam Adelson não é porta-voz do povo judeu. Suas opiniões pessoais não são doutrina judaica, consenso judaico ou responsabilidade judaica.
No entanto, na Casa Branca, ela não representa só a si mesma. Quer goste ou não, é vista por milhões como um símbolo. Não é justo, mas é a realidade. Antissemitas não ligam para justiça. Eles precisam de imagens.
O que pode ter sido brincadeira, provocação ou elogio a um presidente que admira é brincar com dinamite em uma sala cheia de faíscas. E a história foi uma catástrofe para a comunidade judaica.
O papel de Alan Dershowitz:
Relatos indicam que Adelson disse à multidão que conversou com Dershowitz sobre a legalidade de um terceiro mandato; a Reuters reportou que ela o referenciou em conexão com a conversa sobre terceiro mandato no evento.
Isso é um erro.
Primeiro, porque a postura de “encontrar uma brecha” é corrosiva. Mesmo se um argumento constitucional inteligente pudesse ser criado – e, para ser claro, estudiosos sérios veem teorias de terceiro mandato como improváveis – o efeito público é venenoso: sugere que limites constitucionais são para pessoas comuns, enquanto elites podem se livrar com advogados.
Segundo, porque Dershowitz é associado na mente pública a casos infames, o que pode levar a desconfiança pública.
E há também o assunto do Catar.
Em um artigo de 2018 no The Hill discutindo o Catar durante a crise do Golfo, Dershowitz descreveu a disputa como “complexa e nuançada”, defendeu a postura de “liberdade de expressão” da Al Jazeera, chamando-a de “justa”, e sugeriu que o Catar estava “rapidamente se tornando o Israel dos Estados do Golfo”, cercado por inimigos e boicotes.
Muitos judeus pró-Israel acharam a analogia de Dershowitz entre Catar e Israel ofensiva, porque ignora os laços documentados do Catar com líderes terroristas e como seu ecossistema de mídia frequentemente acelera incitamento anti-Israel e anti-judaico. Qualquer que fosse a intenção de Dershowitz, a analogia foi grotesca.
Nomear Dershowitz como “autoridade legal” que pode encontrar um jeito para um terceiro mandato parece desprezo pela democracia.
O problema central: as teorias conspiratórias se escrevem sozinhas.
Todo mito antissemita tem o mesmo esqueleto: judeus controlam o dinheiro; dinheiro controla políticos; logo, judeus controlam o país.
Isso é absurdo. É maligno. Mas historicamente letal.
Mas não se derrota mitos antissemitas entregando novas imagens.
Quando uma bilionária judia liga publicamente dinheiro a uma sugestão explícita de quebrar a Constituição, em uma celebração judaica, dentro da Casa Branca – antissemitas não precisam fabricar nada. Basta reproduzir o clipe e zombar: “Viu?”.
Precisamente porque somos inocentes dessas acusações, temos obrigação moral de não nos comportar de formas que pareçam plausíveis.
Isso não é “apaziguamento”. É sabedoria. Judeus sobreviveram milênios não só por bravura, mas por inteligência.
A mensagem judaica correta: defender a Constituição, a América e o Estado de Direito.
Judeus na América devem ser as vozes mais altas dizendo: a Constituição importa. Limites de mandato importam, inclusive no Congresso, que mal tem rotatividade. A transferência pacífica de poder importa. Ninguém ganha terceiro mandato porque um doador quer. Ninguém ganha terceiro mandato porque um advogado escreve uma teoria.
E devemos dizer sem hesitação, pois alinha com valores judaicos: lei, responsabilidade, humildade e restrição.
O presidente Trump, para seu crédito, já disse a frase chave – “Não posso concorrer”.
O presidente da Câmara Johnson disse que não vê caminho.
Então, eis o que Miriam Adelson deve fazer agora, se se importa com a comunidade judaica e a América: esclarecer publicamente que apoia limites constitucionais e que nenhum dinheiro será prometido para miná-los.
E eis o que Alan Dershowitz deve fazer, se quer ser levado a sério como defensor da democracia americana: parar de tratar a linguagem constitucional como um jogo.
A conclusão: isso foi um erro. Generosidade não compra exceções constitucionais.
Posso elogiar o presidente Trump e ainda exigir que seus apoiadores não falem da lei americana como se pudesse ser remodelada por riqueza e celebridade.
Hanukkah é o Festival da Luz. A Constituição é parte da luz da América. Em um tempo em que judeus são assassinados no exterior e ameaçados em casa, não podemos nos tornar os símbolos das mentiras que nos ameaçam.
Se queremos que a América proteja os judeus, os judeus devem ser vistos – clara e inequivocamente – como protetores da ordem constitucional americana.
Rabino Shmuley Boteach – “O Rabino da América” – é autor internacional de best-sellers com 36 livros e é descrito pelo The Washington Post e pela Newsweek como “o rabino mais famoso da América”, pelo The New York Observer como “o judeu ortodoxo mais famoso do mundo” e pelo The Jerusalem Post como um dos 50 judeus mais influentes vivos. Fundador da Sociedade L’Chaim da Universidade de Oxford, é o único rabino a vencer a competição “Pregador do Ano” do London Times e recipiente do prêmio mais alto da American Jewish Press Association por excelência em comentário. É fundador da The World Values Network, que defende valores judaicos e combate o antissemitismo mundialmente. Siga-o no Instagram e no “X” @RabbiShmuley.









