iStock / Israel National News / Reprodução

Robert Singer é o presidente do Center for Jewish Impact, membro do conselho consultivo do Combat Antisemitism Movement e ex-CEO do World Jewish Congress e da World ORT.

Há poucos dias, na primeira noite de Hanukkah, pelo menos quinze pessoas inocentes foram assassinadas a sangue frio na praia de Bondi, durante uma cerimônia festiva de acendimento de velas voltada para famílias. Um momento destinado a celebrar luz, esperança e continuidade se transformou em uma cena de terror e derramamento de sangue.

O que torna essa atrocidade ainda mais devastadora é que ela não surgiu do nada. Os sinais de alerta estavam presentes. A mensagem estava clara.

Nos dias, semanas e meses após o massacre de 7 de outubro, os australianos presenciaram cenas que deveriam ter acionado alarmes nos mais altos níveis do governo e da sociedade. Do lado de fora da Ópera de Sydney, manifestantes pró-palestinos foram ouvidos gritando: “Onde estão os judeus?”. Isso não era protesto político. Era uma ameaça. Era incitação, e foi tolerada.

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Quando chamadas para atacar ou assassinar judeus são desculpadas, relativizadas ou descartadas como “contexto”, “raiva” ou expressão protegida, inclusive por membros do governo da Austrália, uma mensagem perigosa é enviada: que o antissemitismo é compreensível, negociável ou até legítimo.

Essa mensagem tem consequências, e o massacre na praia de Bondi é uma delas.

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Escrevo isso não apenas como observador, mas como alguém que tem alertado sobre essa trajetória. Em setembro, participei e falei no Summit de Prefeitos Australianos contra o Antissemitismo de 2025, realizado na Gold Coast. O summit foi organizado pelo Combat Antisemitism Movement (CAM), junto com o Comitê CAM na Austrália, e contou com o amplo apoio de todas as principais organizações judaicas do país. Ele reuniu prefeitos e líderes locais de toda a Austrália para enfrentar o aumento acentuado de incidentes antissemitas e o crescente sentimento de insegurança nas comunidades judaicas.

No entanto, mesmo naquela ocasião, os sinais de alerta foram ignorados. Alguns ridicularizaram o summit como um show político, acusaram os organizadores de exagerar o antissemitismo ou cinicamente alegaram que era uma tentativa de desviar a atenção de Israel. Alguns prefeitos foram pressionados a não comparecer. Outros optaram por minimizar preocupações antigas e bem documentadas sobre ataques antissemitas.

Essa relutância em ouvir, em levar as preocupações judaicas a sério, agora cobrou um preço devastador.

De acordo com o Israel National News, o antissemitismo hoje nem sempre se anuncia com suásticas e janelas quebradas. Ele cada vez mais chega embalado na linguagem da política, do ativismo e da indignação moral.

Contudo, sua essência permanece inalterada: o ataque aos judeus como coletivo, a remoção de legitimidade, segurança e humanidade. Quando judeus são isolados, a violência nunca está longe.

A Austrália deve enfrentar uma verdade dura. O antissemitismo se tornou normalizado. Foi permitido que se espalhasse em protestos, campi universitários, online e em partes do discurso público. Isso não é mais um problema periférico. Ele passou das margens para o mainstream.

Este é o momento para clareza.

O antissemitismo não é apenas um problema judaico. É uma ameaça ao tecido moral da própria Austrália. Sociedades que toleram o ódio aos judeus raramente param por aí. Quando uma minoria é marcada como descartável, a democracia em si é enfraquecida. Ficar em silêncio é conceder. Confrontar o antissemitismo é defender os valores dos quais a Austrália se orgulha.

A comunidade judaica da Austrália não pede tratamento especial. Pede o que todo cidadão merece: segurança, respeito e reconhecimento de suas contribuições. Os judeus australianos ajudaram a construir a economia, a cultura, a medicina, a ciência e a vida cívica daquela nação. Eles não são hóspedes. São parte da história da Austrália.

Hanukkah ensina que a luz não derrota a escuridão por acidente. Exige coragem, persistência e determinação moral. Acender uma menorá é um ato de desafio contra o desespero, uma declaração de que até uma pequena chama pode repelir uma escuridão avassaladora.

Simbolismo sozinho não basta. Liderança importa.

O governo da Austrália deve entender seu papel no ponto em que chegamos hoje. Sua atitude em relação a Israel, mesmo quando está do mesmo lado na luta contra o jihadismo global, tem sido no mínimo desdenhosa e, no pior, permissiva. Alguns podem ter interpretado isso como permissão para agir.

O antissemitismo não pode ser tratado como outras formas de preconceito, gerenciado com declarações genéricas ou gestos simbólicos. Deve ser confrontado de forma decisiva e sem ambiguidades. A incitação deve ser processada, e as ameaças devem ser levadas a sério.

As forças de segurança devem ser capacitadas para agir com tolerância zero. Líderes políticos devem traçar linhas vermelhas claras e defendê-las, mesmo quando for desconfortável.

Silêncio diante do ódio não é neutralidade, é cumplicidade.

Toda vez que o antissemitismo é desculpado ou ignorado, extremistas se encorajam. Toda falha em agir envia a mensagem de que vidas judaicas são de alguma forma menos dignas de proteção.

O massacre na praia de Bondi deve ser um ponto de virada.

A Austrália agora enfrenta uma escolha. Pode continuar a minimizar, racionalizar e adiar, ou pode confrontar o antissemitismo com a seriedade que ele exige. Um caminho leva a mais radicalização e violência. O outro reafirma o compromisso da Austrália com a democracia, a tolerância e a santidade da vida humana.

As vítimas do massacre na praia de Bondi merecem mais do que palavras. Merecem clareza moral, ação decisiva e a coragem de finalmente dizer: basta.

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