O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) criticou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, por divulgar números supostamente maquiados sobre novos assentamentos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo lideranças do movimento, os dados apresentados não correspondem à realidade enfrentada pelas famílias camponesas, incluindo áreas contabilizadas como entregues sem decisão judicial que reconheça a desapropriação. Para o MST, os anúncios são propaganda política sem impacto prático para os acampados.
Em resposta, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) refutou as acusações, afirmando operar com transparência. A pasta esclareceu que considera entregues terras que passaram por análise técnica e têm recursos reservados para desapropriação, culpando o governo de Jair Bolsonaro (PL) pelos entraves herdados. Diante do impasse, o MST rompeu o diálogo com Teixeira, exigindo sua substituição e avaliando intensificar mobilizações para pressionar o governo.
O Acampamento Quilombo Campo Grande, em Campo do Meio, sul de Minas Gerais, tornou-se o epicentro do conflito. Cerca de duas mil famílias ocupam a área desde o final dos anos 1990. Em 7 de março de 2025, Lula visitou o local e assinou decretos de desapropriação, sinalizando compromisso com a reforma agrária. No entanto, o processo não avançou desde então, impedindo as famílias de acessar crédito e programas de apoio à produção. “Após a demonstração de compromisso do presidente, nada mudou. O processo está paralisado”, declarou Silvio Netto, da coordenação nacional do MST, à Folha de S.Paulo. Ele acrescentou que, se Lula soubesse da “incompetência”, Teixeira já teria sido exonerado.
Conforme a Revista Oeste, o MST critica o MDA por não ter iniciado uma ação judicial para homologar a desapropriação, enquanto o ministério inclui os três lotes de Campo do Meio na lista de terras entregues, gerando indignação entre os ocupantes. O governo estabeleceu a meta de criar 30 mil novos assentamentos em 2025, alegando que metade já foi entregue, com previsão de alcançar 60 mil famílias assentadas até o fim de 2026. O MDA informou que a Procuradoria do Incra está finalizando a ação judicial sobre Campo do Meio, dentro do prazo legal de até dois anos após a assinatura do decreto.
Tanto o ministério quanto Lula atribuem parte dos atrasos à desestruturação da reforma agrária durante o governo Bolsonaro. O desconforto chegou ao presidente, que, em evento no final de maio, cobrou publicamente Teixeira: “Quero que no MDA tenhamos alguém que busque soluções, não que diga ‘não’. Se for fácil, faço. Se for difícil, faço. Se não der, peço desculpas, porque isso fortalece o respeito mútuo.”