A Suprema Corte do Peru abriu precedente para que réus utilizem decisões judiciais estrangeiras, como as do Brasil, para questionar provas obtidas via cooperação internacional sem a necessidade de homologação formal, conhecida como “exequatur”, conforme noticiado pelo Estadão. A decisão, originada de um pedido da construtora Camargo Corrêa e do executivo Marcos de Moura Wanderley, estabelece que sentenças estrangeiras podem ser usadas como prova documental, como para demonstrar a ilegalidade de evidências em investigações, como ocorreu com a Operação Lava Jato no Brasil.
O entendimento beneficia diretamente figuras como o ex-presidente peruano Ollanta Humala e a ex-primeira-dama Nadine Heredia, condenados a 15 anos de prisão por corrupção, com base em provas de acordos internacionais, e que atualmente estão asilados no Brasil. A ação julgada no Peru envolve provas da Operação Castelo de Areia, anuladas no Brasil por ilicitude, usadas em investigações peruanas entre 2015 e 2017. A decisão permite que a anulação dessas provas no Brasil impacte diretamente os processos criminais no Peru.
Em maio de 2025, a Procuradoria-Geral da República (PGR) suspendeu a cooperação com o Ministério Público do Peru em um caso envolvendo a empreiteira OAS (atual Grupo Metha), devido a suspeitas de violação de acordos de colaboração premiada firmados por delatores brasileiros. Medida semelhante foi adotada anteriormente com a Odebrecht (hoje Novonor), interrompendo a colaboração em processos peruanos por descumprimento de termos.
O Peru é o país com o maior número de políticos investigados, processados ou condenados por desdobramentos da Lava Jato fora do Brasil, incluindo os ex-presidentes Alejandro Toledo, Ollanta Humala e Pedro Pablo Kuczynski, todos presos por acusações de corrupção e financiamento ilícito de campanhas, que negam os crimes. Humala e Heredia foram condenados por receberem recursos da Odebrecht e do ex-ditador venezuelano Hugo Chávez nas campanhas de 2006 e 2011, períodos em que Lula e Dilma Rousseff governavam o Brasil.
No Brasil, em setembro de 2023, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que provas derivadas do acordo de leniência da Odebrecht, incluindo os sistemas Drousys e My Web Day B, não podem ser usadas em processos criminais, eleitorais, cíveis ou de improbidade administrativa. Essa decisão, em vigor há 20 meses, provocou anulações em série e aguarda análise de três recursos apresentados pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e pela PGR, ainda sem julgamento no STF.
Em abril de 2025, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro confirmou a concessão de asilo diplomático a Nadine Heredia, intensificando as discussões sobre a cooperação judicial entre Brasil e Peru no contexto da Lava Jato, segundo a revista O Antagonista.