A história de Ló no Livro de Bereshit não é apenas um relato histórico – serve como alerta para o povo judeu em todas as gerações. Quando o coração age sem a orientação da Torá e da sabedoria, até atos que parecem bondosos podem se tornar prejudiciais. A verdadeira bondade deve sempre estar ancorada na verdade, no conhecimento e na dedicação ao bem-estar do nosso povo, pois sentimentos isolados não protegem o coração judeu de erros. Em nossa época, com Israel enfrentando ameaças existenciais e narrativas falsas em abundância, essa lição é mais urgente do que nunca.
O Ramban, em seu comentário sobre Bereshit 19:8, explica que, quando os anjos visitaram Sodoma, Ló fez de tudo para demonstrar respeito e cuidado. Ele se curvou diante deles, convidou-os para sua casa, preparou uma refeição e tentou protegê-los da crueldade da cidade. Tendo aprendido o valor da hospitalidade na casa de Avraham, Ló manteve essa lição mesmo após se separar de seu mestre. No entanto, o Ramban destaca que Ló não compreendeu plenamente os caminhos de Avraham. Ele imitou os atos de hospitalidade, mas não internalizou o entendimento, os valores ou o quadro moral que guiavam a bondade de Avraham.
Isso fica evidente quando a multidão cercou sua casa e exigiu que ele entregasse seus hóspedes. Em uma tentativa de protegê-los, Ló tomou uma decisão chocante: ofereceu suas próprias filhas. As palavras do Ramban revelam a gravidade desse erro: “Ele se esforçou muito pelos hóspedes para salvá-los… No final, ao ver que não conseguiria, angustiou-se mais com suas filhas do que com sua própria vida – pois deveria ter dado sua própria vida pelos hóspedes.”
O desejo de Ló de fazer o bem se transformou em desastre porque sua bondade não tinha limites e carecia de compreensão. Era uma bondade sem sabedoria, emoção sem julgamento. Em sua mente, o fim justificava os meios. Ele acreditava que proteger os hóspedes era um objetivo tão sagrado que qualquer ação, mesmo imoral, poderia ser justificada. Quando alguém se convence de que seu “objetivo sagrado” é tudo, pode cometer erros graves. Ló queria fazer o bem, mas esse desejo o levou ao erro.
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Aqui, a distinção da Torá entre o mal e a falsidade se torna crucial. Na oração “Elokai, n’tzor l’shoni mei-ra, u’sfatai midaber mirmah”, pedimos a Hashem: “Guarda minha língua do mal e meus lábios de falar falsidade.” O mal é a transgressão em sua forma direta. A falsidade é o engano – especialmente o autoengano. Quando alguém convence a si mesmo de que ações prejudiciais são justas, o mal se torna falsidade. O coração de Ló o impulsionou ao mal, mas ele o vestiu com a aparência de bondade, enganando-se ao acreditar que os fins justificavam os meios. Essa é a essência da falsidade.
Essa lição é altamente relevante hoje. Muitos judeus são atraídos para o campo anti-Israel sob o pretexto de “humanitarismo” – defendendo “civis inocentes”. Seus corações querem fazer o bem, assim como o de Ló. Mas, como Ló, eles veem apenas uma fração da verdade. O que percebem como compaixão se torna uma ferramenta para aqueles que espalham ódio e antissemitismo. Eles marcham ao lado de pessoas que negam o direito de Israel de se defender e que pedem abertamente sua destruição.
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Em um momento em que Israel enfrenta ameaças de aniquilação total, há judeus liberais bem-intencionados que a condenam e fortalecem aqueles que desejam seu mal – tudo em nome de parecerem compassivos. Em suas mentes, o fim justifica os meios. Isso é exatamente a doença da Síndrome de Ló.
Assim como o coração de Ló o levou ao erro, judeus ao longo da história foram enganados quando a bondade superou a compreensão – desde a Europa pré-guerra, onde tentativas bem-intencionadas de apaziguar poderes hostis terminaram em tragédia, até esforços “humanitários” modernos onde informações manipuladas ou incompletas são usadas como arma contra o povo judeu.
Vemos esse padrão hoje também. Em um caso, uma figura sênior no sistema legal de Israel é acusada de causar imenso dano ao país ao supostamente aprovar a apresentação de um filme editado contendo acusações falsas e prejudiciais contra soldados israelenses. Ela pode ter sido motivada por razões políticas, mas talvez acredite sinceramente que estava agindo para “proteger Israel” de irregularidades, de acordo com sua compreensão. Se for assim, mais uma vez, ações impulsionadas pelo autoengano – falsidade – produzem dano real. O coração pode ser sincero, mas sem sabedoria e verdade, os resultados minam a justiça, a verdade e o bem-estar do povo judeu. Isso também é a Síndrome de Ló.
Por que isso acontece? Porque quando a bondade é separada da verdade, o coração pode sobrepujar a mente. Uma pessoa vê sofrimento, como o dos habitantes de Gaza durante a guerra, e se comove imediatamente. Mas se não questiona: Quem causou esse sofrimento? Quem manipula essas imagens? Quem se esconde atrás de civis enquanto ataca Israel? – sua compaixão não tem âncora. Sentimentos sem compreensão derivam para onde são empurrados. Foi exatamente o que aconteceu com Ló. Ele se lembrou do calor de Avraham, mas não de sua sabedoria. Seus sentimentos eram fortes, mas sua compreensão fraca. Quando a emoção ultrapassa o discernimento, a bondade se torna perigosa.
Muita confusão atual vem da própria informação. As pessoas reagem não à realidade, mas a imagens criadas para despertar emoções. Muito do que vemos é incompleto, manipulado ou falso. Vídeos são editados, fotos encenadas, narrativas fabricadas para retratar Israel como agressor. Com o poder da IA, é mais fácil do que nunca criar “evidências” de eventos que nunca ocorreram. Bondade construída sobre tais bases não pode ser confiável. Como o ensino clássico sobre bondade verdadeira nos lembra: há bondade enraizada na verdade e bondade construída sobre falsidade. Informações falsas produzem bondade falsa – mesmo quando os sentimentos são sinceros.
É por isso que esses erros ocorrem. Bondade sem clareza pode ser enganada. Compaixão sem verdade pode ser explorada. Um judeu que sinceramente quer fazer o bem pode se encontrar ao lado daqueles que nos odeiam e repreendendo aqueles que nos defendem. A história de Ló não é apenas história antiga – é um alerta. A verdadeira bondade deve ser guiada pela verdade, justiça e lealdade ao povo judeu. Sem esses elementos, até os sentimentos mais sinceros podem levar ao dano.
A verdadeira bondade requer verdade e conhecimento – clareza e julgamento guiado pela Torá. Toda ação deve ser avaliada pela verdade, justiça e bem-estar do nosso povo. Sem essas fundações, até a bondade sincera pode se tornar destrutiva.
A Halachá comanda a guarda da língua – vigiando o discurso meticulosamente – porque as palavras têm poder enorme, e fala descuidada pode ferir, enganar ou destruir. Da mesma forma, o coração deve ser governado pela Torá e sabedoria, não por emoções não examinadas. Bondade não enraizada na verdade e compreensão pode se tornar prejudicial em vez de sagrada.
A história de Ló é um alerta para todas as gerações: bondade sem compreensão engana o coração e desvia a mão. Os caminhos de Avraham nos ensinam que amor e bondade devem sempre estar ancorados na sabedoria, clareza moral e temor ao Céu.
Todo judeu deve se fortalecer para agir com verdadeira bondade – bondade fundamentada na Torá, verdade e devoção ao povo judeu – e falar com cuidado, para que todas as ações e palavras tragam honra à Torá, justiça ao nosso povo e segurança ao povo judeu. Só assim podemos evitar o perigo da Síndrome de Ló.
Para aqueles que verdadeiramente amam o povo judeu, este é um momento para refletir: sentimentos sozinhos não guiam o coração com segurança. Apenas a bondade que anda de mãos dadas com a Torá, verdade e lealdade inabalável ao nosso povo transforma boas intenções em atos que santificam o nome de Hashem e protegem o povo judeu em um mundo perigoso.
De acordo com o Israel National News, o rabino Eliezer Simcha Weisz é membro do Conselho do Rabinato Chefe de Israel.









