Reuters / Israel National News / Reprodução

Em 10 de setembro de 2025, o presidente da Tunísia, Kaïs Saïed, recebeu o ministro das Relações Exteriores do Irã, Seyed Abbas Araghchi, no Palácio de Cartago. Esse aperto de mãos foi mais do que um gesto diplomático: ele consolidou um padrão que tem redefinido discretamente a política externa tunisiana no último ano, com o chefe de Estado olhando para o Oriente em busca de validação política e alívio econômico, em um momento em que os laços com a Europa e instituições ocidentais estão desgastados.

A visita deixou claro que o que antes seria uma anomalia na diplomacia norte-africana agora é uma escolha deliberada com consequências estratégicas reais.

Essa escolha não surgiu do nada. A viagem de Saïed a Teerã em maio de 2024, para o funeral do falecido presidente iraniano, foi um sinal inconfundível de que o presidente não hesitaria em normalizar relações com Teerã, mesmo que isso levantasse questionamentos em Bruxelas e Washington. Para um líder que tem centralizado o poder internamente e enquadra seu governo em termos de soberania nacional contra uma suposta elite corrupta, esses gestos servem a propósitos domésticos e internacionais: no país, eles o marcam como um ator independente; no exterior, abrem linhas alternativas de apoio que não dependem das condicionalidades políticas exigidas por credores ocidentais.

PUBLICIDADE

As pressões econômicas por trás dessa virada diplomática são urgentes e quantificáveis. A Tunísia enfrenta déficits orçamentários persistentes, acesso limitado a financiamento externo e um cálculo político que levou o governo a considerar empréstimos e medidas fiscais não convencionais. Tentativas de obter grandes resgates condicionais pararam, e autoridades em Túnis sinalizaram preferência por parceiros que oferecem liquidez sem pré-condições de governança. Essas lacunas — dívida crescente, engajamento limitado com o FMI e uma rede de segurança social fraca — criam incentivos para um governo tentado por soluções financeiras rápidas e alianças simbólicas que prometem alívio sem amarras.

Para os Estados Unidos, a aproximação entre Túnis e Teerã não deve ser vista apenas como uma curiosidade local.

PUBLICIDADE

A Tunísia está no cruzamento do Mediterrâneo, uma rota de trânsito para comércio e migração, e um ponto nodal na cooperação regional antiterrorismo. Se o outreach de Túnis para Teerã se aprofundar em laços práticos de segurança ou econômicos, isso poderia erodir linhas de cooperação das quais Washington depende: compartilhamento de inteligência, segurança portuária e a vontade política de Estados árabes moderados de resistir a influências malignas.

O risco não é que a Tunísia se torne um campo de batalha proxy da noite para o dia; o perigo mais imediato é que uma deriva para Teerã normalize uma ordem regional alternativa na qual a influência dos EUA é diminuída e redes malignas encontrem novos ambientes permissivos.

O tempo não é neutro nessa disputa de influência. Se Washington permitir que a relação entre Túnis e Teerã se solidifique em arranjos econômicos e de segurança duráveis, os custos geopolíticos aumentarão e as opções para reverter a tendência se estreitarão. Por outro lado, uma estratégia rápida e bem coordenada que combine linhas de vida financeiras condicionais com projetos de desenvolvimento tangíveis e cooperação de segurança continuada e gerenciada com cuidado pode tornar a virada do governo tunisiano para Teerã desnecessária, em vez de irreversível. Para policymakers dos EUA que se importam com um Mediterrâneo estável e um Magrebe alinhado com abertura democrática e econômica, a escolha é estratégica, não moralista: investir de forma crível, engajar de maneira inteligente e negar aos rivais o vácuo que eles buscam explorar.

De acordo com o Israel National News, a paquera da Tunísia com Teerã é, em última instância, um teste da estratégia americana na região. Ela questiona se os Estados Unidos responderão à influência com isolamento ou com uma oferta que restaure dignidade, soberania e esperança econômica a um país em risco de se tornar dano colateral em uma disputa mais ampla. O caminho mais inteligente, e o que protege os interesses americanos, é agir com firmeza calibrada: fortalecer a economia e as instituições da Tunísia agora, para que uma realinhamento simbólico não se torne estratégico.

Amine Ayoub, fellow no Middle East Forum, é analista de políticas e escritor baseado no Marrocos. Siga-o no X: @amineayoubx

Icone Tag

Possui alguma informação importante para uma reportagem?

Seu conhecimento pode ser a peça-chave para uma matéria relevante. Envie sua contribuição agora mesmo e faça a diferença.

Enviar sugestão de pauta