Um vídeo divulgado pela Marinha do Brasil no domingo, 1º de dezembro, em alusão ao Dia do Marinheiro, celebrado em 13 de dezembro, gerou polêmica ao destacar a mensagem final: “Privilégios? Vem para a Marinha!”. A repercussão da peça publicitária trouxe à tona questionamentos sobre os altos salários recebidos por militares da Marinha, especialmente aqueles designados para postos no exterior.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, em agosto deste ano, o capitão de mar e guerra Leonardo Pavoni, irmão do contra-almirante Alexandre Taumaturgo Pavoni, recebeu uma remuneração líquida equivalente a R$ 216,3 mil. Taumaturgo Pavoni comanda o Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM), responsável pela produção do vídeo polêmico. A Marinha justificou que os pagamentos seguem a legislação vigente e que a campanha busca exaltar os esforços de seus integrantes e inspirar jovens para a carreira naval.
Leonardo Pavoni atuou como assessor na missão permanente do Brasil na ONU entre setembro de 2022 e setembro de 2024, acumulando, em agosto, um salário líquido de US$ 14,1 mil, além de US$ 21,5 mil em verbas indenizatórias. No mesmo período, o militar Alexandre Nonato Nogueira registrou o maior contracheque no exterior, totalizando o equivalente a R$ 220,8 mil.
No total, 821 militares da Marinha receberam salários em dólar em agosto, somando cerca de US$ 7,2 milhões (aproximadamente R$ 44 milhões). Entre esses, 41 oficiais tiveram remunerações superiores a R$ 100 mil. Entre os destaques, estão Marcelo Maza Quadros, adido militar na Arábia Saudita, e Christian Drummond Hingst, representante da Marinha em Londres. Quadros, por exemplo, recebeu em agosto US$ 16,4 mil líquidos, além de US$ 7,7 mil em verbas indenizatórias.
A peça publicitária foi criticada em diversos círculos, inclusive dentro do governo. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, classificou o vídeo como um "grave erro", enquanto a Marinha defendeu sua produção, afirmando que não utilizou recursos externos nem inteligência artificial e que o objetivo era homenagear seus profissionais.
Além das questões salariais, a divulgação ocorre em meio a mudanças na previdência dos militares, resultado de um acordo entre os Ministérios da Fazenda e da Defesa, liderados por Fernando Haddad. As novas regras incluem a imposição de idade mínima de 55 anos para aposentadoria, o fim da “morte ficta”, que permitia o pagamento de pensão a famílias de militares expulsos por mau comportamento, e a extinção da transferência de pensões.
A Marinha também destacou que os altos salários refletem designações estratégicas para adidos militares e outras funções em embaixadas brasileiras pelo mundo. Contudo, o debate sobre os privilégios e a estrutura salarial da corporação continua sendo tema de ampla discussão pública
Reportado por Yasmin Alencar na Revista Oeste.