ECONOMIA

Alemanha Enfrenta Desafios Econômicos Com Modelo De Negócio, Aponta The Economist

Nov 26, 2024
thefarol.com
Jörg Braukmann

A economia alemã, conhecida por sua força industrial, enfrenta um momento crítico de transformação, com temores crescentes de desindustrialização e questionamentos sobre a sustentabilidade de seu modelo econômico. O Ministério das Finanças de Baden-Württemberg, no sul do país, tornou-se símbolo das preocupações que cercam a Alemanha, especialmente com uma eleição se aproximando para definir o futuro do chanceler Olaf Scholz.

Danyal Bayaz, ministro das Finanças de Baden-Württemberg, alertou que o país desperdiçou os "dividendos da globalização" e falhou em investir adequadamente no setor público durante os anos de juros baixos. Hoje, a Alemanha enfrenta uma combinação de desafios: a crise energética desencadeada pela guerra na Ucrânia, a concorrência da China e a ameaça de tarifas impostas pelos Estados Unidos.

A indústria alemã, especialmente representada pelas empresas Mittelstand, é reconhecida por inovações incrementais. No entanto, sua dificuldade em se adaptar a mudanças tecnológicas, como a transição para veículos elétricos, deixou o setor vulnerável. O país ainda enfrenta altos custos de energia após abandonar o gás russo, o que compromete empresas intensivas em energia, como siderúrgicas.

Entre os impactos mais significativos, a Volkswagen, maior montadora da Europa, considera fechar uma fábrica pela primeira vez em sua história, o que pode acarretar a perda de até 30 mil empregos. A produção industrial tem declinado desde 2018, com redução de carteiras de pedidos e adiamento de investimentos. A Thyssenkrupp, uma gigante da siderurgia, alertou que a Alemanha está em plena desindustrialização.

Além da indústria, o varejo também sente os efeitos dessa crise. Empresas como a Rossmann têm buscado alternativas para reduzir custos de energia. Outro agravante é a falta de trabalhadores qualificados, reflexo do envelhecimento populacional e da complexidade burocrática. Segundo o Instituto Ifo, a economia alemã perde cerca de 146 bilhões de euros por ano devido a regulamentos da União Europeia.

A relação comercial com a China, antes um pilar econômico, tornou-se um desafio. A Alemanha, que supria a demanda chinesa por carros e produtos químicos, agora enfrenta concorrência direta, já que a China se tornou o maior exportador mundial de automóveis. Paralelamente, os Estados Unidos emergiram como um importante mercado, mas tarifas americanas iminentes podem impactar o PIB alemão em até 1%, segundo o Bundesbank.

Internamente, há divisões sobre como lidar com a China. Enquanto algumas empresas defendem uma abordagem cautelosa para reduzir riscos, conglomerados como BASF e montadoras continuam a investir pesadamente no país asiático. A Volkswagen e a BMW planejam novas fábricas na China, enquanto o lobby automotivo pressiona contra tarifas europeias sobre importações de automóveis chineses.

No governo, diplomatas e setores de inteligência defendem medidas punitivas contra a China por apoiar a Rússia. Contudo, empresas alertam que tais medidas poderiam agravar o baixo crescimento econômico.

A crise econômica ocorre em um momento político decisivo, com eleições marcadas para fevereiro após o colapso de uma coalizão de três partidos. Friedrich Merz, potencial líder da próxima coalizão, poderá trazer reformas econômicas, incluindo mudanças no freio da dívida para impulsionar investimentos. No entanto, qualquer alteração constitucional enfrentará desafios no Parlamento.

Thorsten Benner, do Instituto de Política Pública Global de Berlim, destacou que a Alemanha transitou do “otimismo fácil” dos anos de Angela Merkel para uma “armadilha de melancolia”, caracterizada por limitações fiscais e desconfiança pública. Há esperança de que o próximo governo possa quebrar esse ciclo e implementar mudanças estruturais significativas.

Reportado pela Redação Oeste na Revista Oeste.

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