O Palácio do Planalto dispensou o historiador Cláudio Soares Rocha da função de responsável pelo acervo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No lugar dele, foi nomeado Jackson Raymundo, amigo próximo da primeira-dama, Janja da Silva. A troca de cargos acontece em um momento de reestruturação interna, após a posse do novo chefe da Secretaria de Comunicação (Secom), Sidônio Palmeira, e teria o objetivo de acomodar aliados da esposa do presidente, segundo informações do jornal Estadão.

A Diretoria de Documentação Histórica, onde Rocha atuava, faz parte do gabinete pessoal do presidente, no Palácio do Planalto, e é encarregada de organizar o acervo privado de Lula. Entre as atribuições da função, estão a catalogação de presentes recebidos pelo chefe do Executivo, cartas enviadas ao presidente e registros históricos da gestão.

Desde o início do atual mandato, Janja tem exercido forte influência dentro do governo, apesar de não ocupar um cargo formal. Ela conta com uma equipe informal de ao menos 12 assessores, responsáveis por produzir conteúdos para suas redes sociais, especialmente em viagens internacionais.

No entanto, sua posição dentro do Planalto teria sido enfraquecida com a chegada de Sidônio Palmeira à Secom, substituindo Paulo Pimenta. A mudança no comando da comunicação do governo teria diminuído seu poder de influência nas estratégias de divulgação e no direcionamento da narrativa oficial. Diante disso, a nomeação de Raymundo pode ser interpretada como uma tentativa de garantir que a primeira-dama continue a ter acesso a espaços estratégicos dentro da administração federal.

A exoneração de Cláudio Soares Rocha ocorre pouco depois da organização de uma exposição sobre a trajetória de Lula, montada no terceiro andar do Palácio do Planalto, onde funciona o gabinete presidencial. A mostra inclui itens pessoais do presidente, como a icônica camisa listrada em preto e branco que ele usou durante sua atuação sindical.

Servidor de longa data, Rocha cuidou dos acervos de ex-presidentes como José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e do próprio Lula, em seu primeiro mandato. Ele havia sido chamado de volta para o governo em 2023, mas agora foi desligado, obtendo sua aposentadoria.

A mudança gera questionamentos sobre a autonomia da gestão do acervo presidencial e o impacto da influência de Janja nas decisões internas do Planalto. Até o momento, nem o gabinete de Lula nem a assessoria da primeira-dama comentaram oficialmente sobre o caso.

Reportado por Fabio Boueri na Revista Oeste.