Israel recebeu nesta quinta-feira (20) os corpos de quatro reféns do Hamas, após o grupo terrorista promovê-los em um evento propagandístico em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza.
As vítimas, identificadas como Shiri Bibas, seus dois filhos pequenos, Kfir e Ariel Bibas, e Oded Lifshitz, foram expostas em um palco diante de uma multidão que aplaudia enquanto músicas festivas eram tocadas. Entre os presentes, havia crianças vestindo símbolos de grupos terroristas.
Os caixões traziam fotos dos reféns com adesivos indicando "data de captura: 7 de outubro de 2023". No palco, um cartaz mostrava os quatro reféns ao lado de uma imagem do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, retratado como um vampiro, com os dizeres: "Este criminoso de guerra Netanyahu e seu exército nazista os matou com mísseis dos aviões sionistas". Outra faixa culpava os Estados Unidos pela morte das vítimas, alegando que elas foram "mortas por bombas americanas".
Durante o evento, um membro do Hamas discursou em inglês atacando o plano do presidente dos EUA, Donald Trump, de realocar a população de Gaza, chamando-o de "mentira absurda".
Os corpos foram entregues ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que inicialmente havia se recusado a participar da cerimônia, mas acabou cedendo à pressão do Hamas. Segundo a emissora israelense Channel 12, o Hamas chegou a ameaçar manter os corpos caso a Cruz Vermelha não cooperasse.
Após a entrega, os corpos foram transportados para a Força de Defesa de Israel (IDF) na Faixa de Gaza, onde passaram por uma avaliação da equipe antibombas para garantir que não estivessem armadilhas, como já aconteceu com outras vítimas em 7 de outubro.
Os caixões foram então envoltos na bandeira de Israel, enquanto o chefe da Rabinato Militar, Brigadeiro-General Eyal Krim, recitou o Salmo 83. Soldados israelenses foram vistos chorando enquanto carregavam os corpos para veículos militares, que os transportaram ao Instituto de Medicina Forense Abu Kabir, em Tel Aviv, para identificação oficial. O processo pode levar até 48 horas.
A família de Oded Lifshitz recebeu a confirmação oficial de sua morte poucas horas após a chegada do corpo a Tel Aviv.
“503 dias de angústia chegaram ao fim”, disse a família em um comunicado. “Rezamos e esperamos por um desfecho diferente. Agora podemos lamentar a perda do marido, pai, avô e bisavô que nos foi tirado em 7 de outubro. Nosso processo de cura começa agora, mas não se encerrará até que o último refém retorne para casa.”
O Fórum de Famílias dos Reféns e Desaparecidos repudiou o espetáculo promovido pelo Hamas e organizou uma vigília em Tel Aviv, exigindo o retorno dos 69 reféns que ainda permanecem em cativeiro.
O presidente israelense Isaac Herzog lamentou a tragédia, dizendo que o país está em luto. “Agonia. Dor. Não há palavras. O coração de toda a nação está em pedaços”, declarou Herzog. “Peço perdão em nome do Estado de Israel por não termos conseguido protegê-los naquele dia terrível e por não termos trazido todos de volta em segurança.”
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, classificou o evento do Hamas como "abominável" e uma violação do direito internacional. “A entrega de restos mortais deve ocorrer com dignidade e respeito às vítimas e seus familiares”, disse Turk em um comunicado.
Contudo, Turk enfrenta críticas devido ao seu histórico de declarações. Segundo um levantamento da organização UN Watch, ele condenou Israel 58 vezes, um número maior que todas as ditaduras do mundo combinadas. Além disso, suas referências ao Hamas são frequentemente indiretas, referindo-se ao grupo terrorista apenas como “grupos armados palestinos”.
Oded Lifshitz, de 84 anos, era um jornalista e ativista pela paz, um dos fundadores do Kibutz Nir Oz. Ele dedicou a vida a ajudar palestinos, frequentemente organizando transporte para pacientes de Gaza que necessitavam de atendimento médico em hospitais israelenses.
Sua esposa, Yocheved Lifshitz, também foi sequestrada, mas foi libertada em novembro de 2023. Em declarações anteriores, ela lamentou que seu marido, que sempre defendeu os palestinos, tenha sido traído e levado ao inferno pelo Hamas.
A confirmação da morte da jovem mãe Shiri Bibas, de 32 anos, e seus dois filhos pequenos, Ariel e Kfir, gerou comoção internacional.
Kfir tinha apenas nove meses de vida quando foi sequestrado e Ariel, 4 anos. Imagens da mãe desesperada segurando os dois filhos ruivos, momentos antes do sequestro, viralizaram após os ataques de 7 de outubro, tornando-se um símbolo da brutalidade do Hamas contra civis israelenses.
Em novembro de 2023, o Hamas obrigou Yarden Bibas, marido de Shiri e pai das crianças, a gravar um vídeo anunciando a morte da família. No entanto, Yarden, que foi libertado recentemente, ainda mantinha esperanças de reencontrar sua esposa e filhos com vida.
O Hamas divulgou uma lista com os últimos seis reféns vivos que serão libertados no próximo sábado (22). Entre eles estão os israelenses:
- Omer Shem Tov, 22 anos
- Omer Wenkert, 23 anos
- Eliya Cohen, 27 anos
- Tal Shoham, 30 anos
Além disso, os reféns de longa data:
- Hisham Al-Sayed, 36 anos
- Avraham (Avera) Mengisto, 39 anos (mantidos pelo Hamas há quase uma década).
Até o momento, 19 dos 33 reféns da primeira fase do acordo foram libertados, além de cinco tailandeses soltos em uma negociação separada. No total, 73 reféns ainda estão em cativeiro, a maioria sequestrada em 7 de outubro.
A segunda fase do acordo de cessar-fogo, que deveria ter começado no dia 3 de fevereiro, segue sem avanços. As famílias dos reféns exigem ações imediatas para a libertação dos sequestrados e o fim das negociações arrastadas.