A oposição no Congresso Nacional retomou esforços para impulsionar um pedido de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apostando na insatisfação popular como fator determinante para pressionar o Legislativo. O argumento técnico para o impedimento envolve suspeitas de pedaladas fiscais no programa Pé-de-Meia, enquanto o cenário político é marcado por crises econômicas, alta dos preços dos alimentos e esforços do governo para ampliar taxações.
Líderes oposicionistas avaliam que Lula já reúne condições políticas e jurídicas para um processo de impeachment, mas que o fator decisivo será a pressão popular. O deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS), autor do pedido, enfatiza a importância da mobilização:
"Com o povo brasileiro indo às ruas para pedir sua saída, acredito que isso será fundamental para avançarmos com o impeachment aqui no Congresso."
Nesse sentido, está sendo organizada uma manifestação de rua no dia 16 de março, na Avenida Paulista, em São Paulo. O protesto conta com o apoio de diversos parlamentares da oposição e ativistas de direita, que arrecadam doações para financiar materiais e carros de som.
A deputada Bia Kicis (PL-DF) destacou que o tema do impeachment vem ganhando adesão até mesmo de quem antes não cogitava essa possibilidade:
"A gente percebe que as pessoas já estão impacientes, porque o Lula já cansou de dar motivos. Agora a coisa ficou muito explícita, e até seus próprios eleitores já falam em impeachment. A popularidade dele está despencando."
O movimento pelo impeachment começou a ganhar força após uma sequência de crises enfrentadas pelo governo. Entre os fatores que intensificaram a insatisfação estão:
- Alta do dólar, que superou os R$ 6 em dezembro de 2023;
- Normativa da Receita Federal sobre operações financeiras, que gerou preocupação entre trabalhadores informais e foi revogada após pressão;
- Aumento expressivo dos preços dos alimentos, especialmente carne e café;
- Desgaste com setores do Congresso, principalmente com o Centrão.
A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) criticou a política econômica do governo:
"O governo sobrecarregou de impostos os produtores rurais e o resultado foi comida mais cara. Tudo o que Lula prometeu, ele não cumpriu."
O argumento jurídico que embasa o pedido de impeachment surgiu em janeiro de 2024, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) bloqueou R$ 6 bilhões do programa Pé-de-Meia. O motivo seria o uso de transferências entre fundos controlados pelo governo sem passar pelo Tesouro, o que teria driblado regras fiscais.
A oposição já apresentou uma notícia-crime contra ministros do governo, incluindo Fernando Haddad (Fazenda), Camilo Santana (Educação) e Simone Tebet (Planejamento).
"Houve uma irregularidade grave, e esperamos que haja responsabilização. Sabemos que o impeachment tem um peso político, então cabe a nós dialogar e articular", declarou o deputado Zucco (PL-RS).
A mobilização marcada para março é vista como um teste para medir o impacto da crise econômica na disposição da população em aderir a um processo de impeachment. Um parlamentar da oposição, que preferiu não se identificar, afirmou que Lula ainda não enfrenta um cenário tão crítico quanto Dilma Rousseff (PT) em 2016, quando sua popularidade chegou a 9% antes do impeachment.
No entanto, a estratégia segue a lógica das manifestações que precederam o afastamento da ex-presidente, iniciadas nas jornadas de junho de 2013 e intensificadas em março de 2015, quando mais de 1 milhão de pessoas tomaram a Avenida Paulista.
Embora a oposição intensifique a mobilização, lideranças do Centrão ainda não enxergam viabilidade para o impeachment. O grupo considera que é mais vantajoso pressionar Lula por espaços na reforma ministerial do que embarcar em um processo demorado e juridicamente contestável.
Mesmo assim, a insatisfação dentro do bloco é evidente. Durante um evento em fevereiro, Gilberto Kassab (PSD) criticou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamando-o de "fraco" e sem capacidade de liderar a economia.
Mesmo sem garantias de que o impeachment será levado adiante, opositores apostam que a mobilização popular pode enfraquecer Lula para a eleição de 2026.
"A insatisfação com a economia, o aumento dos impostos e a falta de segurança estão sufocando a população. Isso pode ter impacto na eleição e criar um ambiente de maior desgaste para o governo", afirmou um líder da oposição.
Reportado por Vinícios Sales na Gazeta do Povo.