O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) utilizou um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão, na segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025, para promover uma peça de propaganda eleitoral, segundo análise de grandes jornais brasileiros. Em pouco mais de dois minutos, Lula seguiu um roteiro elaborado pelo novo ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, que prioriza o marketing político em detrimento de uma comunicação pública tradicional, impessoal e republicana.
O editorial do O Estado de S. Paulo desta quarta-feira, 26, descreve o discurso como uma saída do papel de chefe de Estado para o de candidato. "Lula leu o script de seu marqueteiro não como prestação de contas ou informação relevante, mas como uma propaganda típica de campanha", afirma o jornal. O presidente destacou dois programas de seu governo: o Pé-de-Meia, que paga uma poupança a jovens do ensino médio — parcialmente represada por manobras orçamentárias —, e o novo Farmácia Popular, com medicamentos 100% gratuitos e fraldas geriátricas, já anunciados anteriormente pela ex-ministra Nísia Trindade. "Tudo de graça", resumiu Lula, em tom que o Estadão critica como "louvação aos poderes sobrenaturais" do presidente.
O Estadão vai além: "Pelo que diz, como diz e quando diz, o pronunciamento é tudo menos um comunicado tradicional. Não havia urgência que justificasse tal fala; a única urgência é a queda na popularidade de Lula." O Folha de S.Paulo ecoa a crítica, apontando um "governo desnorteado" que, diante do tombo nas pesquisas, "espalha informações erradas sobre combustíveis e falsas esperanças sobre controle de preços de alimentos". Já O Globo avalia que o Planalto erra ao tratar tudo como falha de comunicação: "É difícil divulgar um governo que não tem muito a mostrar. Após metade do mandato, Lula recicla programas defasados de gestões passadas."
Dados do último Datafolha mostram uma queda de 11 pontos na aprovação do governo em dois meses, de 35% para 24%, enquanto a reprovação subiu de 34% para 41% — o pior índice de Lula em seus três mandatos. Para a Folha, o presidente ignora o equilíbrio macroeconômico, apostando na distribuição de recursos como motor de crescimento. O jornal considera aceitável que governantes usem a TV em crises ou para diretrizes, mas alerta: "Tornar esses discursos quinzenais, como quer o PT, é abuso e propaganda pura."
De acordo com a Revista Oeste, o Estadão reconhece a necessidade de modernizar a comunicação pública, mas diferencia: "O que vemos é campanha antecipada." O Globo reforça que o uso da rede nacional não é para "reprisar programas e exaltar a administração" visando reeleição, e sim para mensagens de relevância nacional. "Lula deveria falar na TV quando tivesse algo concreto a dizer. Após dois anos e dois meses, os brasileiros querem resultados, não anúncios eleitoreiros", conclui. A percepção de fracasso já atinge até os eleitores mais fiéis, segundo o jornal, evidenciando a falta de uma marca significativa neste mandato.