Em um editorial divulgado nesta segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025, o jornal Folha de S.Paulo expressou duras críticas à decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que anulou todos os procedimentos da Operação Lava Jato relacionados a Antonio Palocci. A medida, no entanto, manteve intacto o acordo de delação premiada firmado pelo ex-ministro, gerando amplo debate e controvérsia.
Antonio Palocci, que ocupou os cargos de ministro da Fazenda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de ministro da Casa Civil sob Dilma Rousseff (PT), teve sua carreira marcada por escândalos que culminaram em sua saída de ambas as funções. A decisão de Toffoli preserva as informações fornecidas por Palocci em sua delação, mas elimina as ações judiciais contra ele oriundas da Lava Jato. Segundo a Folha, o movimento repete um padrão já observado em outro caso de grande repercussão. "Na forma e no conteúdo, é uma réplica da decisão tomada pelo mesmo juiz em favor de Marcelo Odebrecht", afirmou o editorial. Em 2024, o empresário conseguiu anular seu processo com base em irregularidades reveladas por um hacker, que expôs conversas da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
O jornal argumenta que os prejuízos causados pela decisão de Toffoli são expressivos para o Brasil. Além de beneficiar Palocci, o ministro teria favorecido a empresa J&F em outra ocasião, mesmo sem relação direta com a vara federal de Curitiba. O editorial aponta um conflito de interesses, destacando que a esposa de Toffoli foi contratada como advogada pela J&F em uma disputa empresarial. "O mesmo magistrado encontrou uma forma de favorecer a companhia J&F, cujo caso nem sequer passou pela vara de Curitiba", escreveu a Folha.
Os impactos materiais são apenas parte do problema, segundo o jornal. Em um nível mais profundo, as decisões isoladas de Toffoli corroem a credibilidade das instituições de controle no país. O editorial sugere que tais ações reforçam a percepção de que o combate à corrupção no Brasil é uma missão fadada ao fracasso, minando a confiança na justiça e nos esforços contra a impunidade. "Ele compromete o patrimônio institucional dos órgãos de controle e alimenta a ideia de que lutar contra a corrupção no Brasil é uma tarefa impossível, marcada por derrotas constantes", concluiu a Folha de S.Paulo.
A anulação dos atos contra Palocci reacende discussões sobre a lisura da Operação Lava Jato e o papel do STF na revisão de processos ligados à corrupção. Para a Folha, a postura de Toffoli representa um retrocesso significativo, tanto em termos práticos quanto simbólicos, em um momento em que o país ainda busca consolidar mecanismos eficazes de accountability, conforme reportado na Revista Oeste.